CARTA AOS ROMANOS
INTRODUÇÃO
BÍBLIA DA CNBB
A Carta aos Romanos (Rm) foi escrita pelo apóstolo Paulo durante a terceira viagem missionária, quando ele ficou três meses na Grécia (Corinto), pouco antes de sua volta a Jerusalém em 57/58 d.C.
Paulo prepara, nesta carta, uma visita à comunidade de Roma (15,23), fundada por desconhecidos anteriormente e que, a partir de certa data, acolheu também Pedro (não mencionado na carta).
Paulo procura apresentar-se pessoalmente e explicar sua prática teológico-pastoral, que deve ter sido objeto de comentários, sobretudo da parte dos judeu-cristãos. Revela também seu desejo de visitar a Espanha, com a ajuda da comunidade romana (15,24).
O secretário mencionado na carta é Tércio (16,23); Fibe, a diaconisa da igreja de Cencréia (Corinto), pode ter sido a portadora (16,1).
CONTEÚDO
Esta carta distingue-se das outras cartas de Paulo por seu gênero. Não é motivada por circunstâncias ou perguntas das comunidades, como 1 e 2Corintios e Gálatas, mas expõe uma questão teológico-pastoral.
Paulo admitia à comunidade de Cristo todos aqueles que realmente tivessem fé, sem que primeiro passarem pelo judaísmo. Isso suscitava a seguinte questão:
a pessoa alcança a “justificação” (a amizade com Deus) com base nas “obras da lei”, como sustentavam muitos judeus e judeu-cristãos,
ou
a “justiça” lhe é atribuída gratuitamente, em virtude da fé em Cristo, sem contabilizar tais “obras da lei”?
A resposta de Paulo é clara: é pela fé, exclusivamente, que se alcança a amizade de Deus (a justificação).
O que Paulo rejeita são obras que contabilizamos para as apresentar a Deus como mérito, impondo-nos a Deus. Tal atitude é orgulho e inaceitável. Paulo não rejeita, porém, a nova atuação que surge da fé e da graça: a “lei do Espírito” e as obras do amor fraterno, cumprimento de toda a Lei. (Este tema é tratado também em Gálatas, carta que ajuda muito para compreender a carta aos Romanos.). Romanos enquadra esta questão pastoral numa meditação mais ampla da fé, expondo por assim dizer “o evangelho de Paulo”.

– A carta começa com um “credo” primitivo (1,3-4). Depois, em 1,16-17, é formulada a “tese” da justificação pela fé, e a partir daí se desenvolve o argumento:
– Primeiro, Paulo mostra que todos, pagãos e judeus, estão sob o pecado. Os judeus têm a Lei, mas o que realmente justifica a pessoa é a Promessa de Deus aceita na fé, como mostra o exemplo de Abraão. A Lei apenas faz conhecer o pecado (caps: 1-4).
– Deus então mandou seu Filho Jesus para salvar a todos, restabelecendo o que foi desfeito desde o primeiro homem, Adão. Vivemos, pois, uma vida nova, com Cristo morto e ressuscitado, no Espírito e conforme a Lei do Espírito. Vivemos m conflito com a “carne” (= a autossuficiência humana), mas com Cristo venceremos (caps. 5-8).
– Neste ponto, Paulo pergunta: e os meus compatriotas judeus então? Pois bem, a vocação dos não judeus os tornará zelosos a ponto de eles também integrarem, um dia, a comunidade dos que são salvos (caps. 9-11).
– A última parte contêm então orientações práticas para a vida cristã – prova evidente de que Paulo não negligencia as obras inspiradas pelo Evangelho (12-15).
– O cap. 16 é uma complexa lista de saudações e notícias pessoais.
ESTILO
A carta aos Romanos se destaca, no Novo Testamento, por seu estilo. Paulo lança mão de diversos meios retóricos para que sua mensagem alcance o efeito desejado: firmar na fé a comunidade de Roma, composta de fiéis oriundos do judaísmo (aparentemente a maioria) e do paganismo (causando problemas de convivência aos judeus mais apegados à Lei de Moisés).
Muitas vezes recorre à diatribe, o diálogo competitivo entre debatedores imaginários, com perguntas e respostas por ele mesmo formuladas.
Para convencer seus leitores judeus, cita em abundância a escritura judaica – segundo a tradução grega, em voga entre os judeus da “diáspora -, dando muitas vezes uma interpretação nova e inesperada. Mas não fica no campo da do discurso racional. Sobretudo nos capítulos 9-11 toca a sensibilidade de coração. Mostra-se solidário com os judeus, mas ao mesmo tempo os admoesta para que, aproveitando a oferta da salvação aos gentios, também eles se abram à salvação que Deus, fiel à sua promessa feita a Abraão, lhes oferece em Jesus Cristo.
DESTAQUES
- A FÉ EM JESUS, O CRISTO
Hoje em dia, muitas pessoas acham que qualquer fé salva. Ora, para quem foi realmente atingido pela mensagem cristã, a “paz com Deus” depende da adesão eficaz a Jesus e ao seu caminho de vida, e não de critérios extrínsecos (obras rituais etc.). Jesus é o ponto de referência de Deus em nossa vida.
- A GRAÇA E A GRATUIDADE
Em Cristo, recebemos “de graça” a graça de Deus. Nós, ao contrário, procurarmos justificar nossa vida, não mais pela observância de um código moral e ritual como era a Lei de Moisés, mas por muitos outros “méritos” que a sociedade reconhece e que supomos ser suficientes para garantir uma boa avaliação final: trabalho, sucesso, atividades sem fim. A carta aos Romanos nos lembra que temos valor aos olhos de Deus se nossa vida, por mais limitada que seja, está em harmonia com Cristo.
- A JUSTIFICAÇÃO, JUSTIÇA SALVADORA DE DEUS
A justiça de Deus não é fiscalizadora, mas “ajustadora”: ela torna justo quem não o é, desde que, pela fé na graça manifestada em Cristo, a pessoa se entregue a ele. A justiça de Deus não consiste em contabilizar e cobrar, mas em realizar uma nova criação.
- A UNIVERSALIDADE DA SALVAÇÃO
Paulo rejeita os critérios do judaísmo de seu tempo para condicionar a salvação: a Lei e a pertença ao povo de Israel, pela circuncisão (não pela raça, pois também não judeus podiam ser “tementes a Deus” ou se deixar circuncidar e observar a Lei; cf. Intr. a Gálatas). Com a vinda de Cristo, todos, judeus e pagãos, estão na mesma situação e recebem a certeza da salvação pela adesão a Cristo. Salvação não é uma questão de cultura superior. Toda pessoa que adota o caminho de Cristo é salva, pela fé.
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Responsável por este trabalho
Xavier Cutajar