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ROMANOS-CNBB

quarta-feira, julho 9th, 2025

CARTA AOS ROMANOS

INTRODUÇÃO

BÍBLIA DA CNBB

            A Carta aos Romanos (Rm) foi escrita pelo apóstolo Paulo durante a terceira viagem missionária, quando ele ficou três meses na Grécia (Corinto), pouco antes de sua volta a Jerusalém em 57/58 d.C.

            Paulo prepara, nesta carta, uma visita à comunidade de Roma (15,23), fundada por desconhecidos anteriormente e que, a partir de certa data, acolheu também Pedro (não mencionado na carta).

            Paulo procura apresentar-se pessoalmente e explicar sua prática teológico-pastoral, que deve ter sido objeto de comentários, sobretudo da parte dos judeu-cristãos. Revela também seu desejo de visitar a Espanha, com a ajuda da comunidade romana (15,24).

            O secretário mencionado na carta é Tércio (16,23); Fibe, a diaconisa da igreja de Cencréia (Corinto), pode ter sido a portadora (16,1).

CONTEÚDO

            Esta carta distingue-se das outras cartas de Paulo por seu gênero. Não é motivada por circunstâncias ou perguntas das comunidades, como 1 e 2Corintios e Gálatas, mas expõe uma questão teológico-pastoral.

Paulo admitia à comunidade de Cristo todos aqueles que realmente tivessem fé, sem que primeiro passarem pelo judaísmo. Isso suscitava a seguinte questão:

a pessoa alcança a “justificação” (a amizade com Deus) com base nas “obras da lei”, como sustentavam muitos judeus e judeu-cristãos,

ou

a “justiça” lhe é atribuída gratuitamente, em virtude da fé em Cristo, sem contabilizar tais “obras da lei”?

A resposta de Paulo é clara: é pela fé, exclusivamente, que se alcança a amizade de Deus (a justificação).

            O que Paulo rejeita são obras que contabilizamos para as apresentar a Deus como mérito, impondo-nos a Deus. Tal atitude é orgulho e inaceitável. Paulo não rejeita, porém, a nova atuação que surge da fé e da graça: a “lei do Espírito” e as obras do amor fraterno, cumprimento de toda a Lei. (Este tema é tratado também em Gálatas, carta que ajuda muito para compreender a carta aos Romanos.). Romanos enquadra esta questão pastoral numa meditação mais ampla da fé, expondo por assim dizer “o evangelho de Paulo”.

– A carta começa com um “credo” primitivo (1,3-4). Depois, em 1,16-17, é formulada a “tese” da justificação pela fé, e a partir daí se desenvolve o argumento:

            – Primeiro, Paulo mostra que todos, pagãos e judeus, estão sob o pecado. Os judeus têm a Lei, mas o que realmente justifica a pessoa é a Promessa de Deus aceita na fé, como mostra o exemplo de Abraão. A Lei apenas faz conhecer o pecado (caps: 1-4).

            – Deus então mandou seu Filho Jesus para salvar a todos, restabelecendo o que foi desfeito desde o primeiro homem, Adão. Vivemos, pois, uma vida nova, com Cristo morto e ressuscitado, no Espírito e conforme a Lei do Espírito. Vivemos m conflito com a “carne” (= a autossuficiência humana), mas com Cristo venceremos (caps. 5-8).

            – Neste ponto, Paulo pergunta: e os meus compatriotas judeus então? Pois bem, a vocação dos não judeus os tornará zelosos a ponto de eles também integrarem, um dia, a comunidade dos que são salvos (caps. 9-11).

            – A última parte contêm então orientações práticas para a vida cristã – prova evidente de que Paulo não negligencia as obras inspiradas pelo Evangelho  (12-15).

O cap. 16 é uma complexa lista de saudações e notícias pessoais.

ESTILO

A carta aos Romanos se destaca, no Novo Testamento, por seu estilo. Paulo lança mão de diversos meios retóricos para que sua mensagem alcance o efeito desejado: firmar na fé a comunidade de Roma, composta de fiéis oriundos do judaísmo (aparentemente a maioria) e do paganismo (causando problemas de convivência aos judeus mais apegados à Lei de Moisés).

Muitas vezes recorre à diatribe, o diálogo competitivo entre debatedores imaginários, com perguntas e respostas por ele mesmo formuladas.

Para convencer seus leitores judeus, cita em abundância a escritura judaica – segundo a tradução grega, em voga entre os judeus da “diáspora -, dando muitas vezes uma interpretação nova e inesperada. Mas não fica no campo da do discurso racional. Sobretudo nos capítulos 9-11 toca a sensibilidade de coração. Mostra-se solidário com os judeus, mas ao mesmo tempo os admoesta para que, aproveitando a oferta da salvação aos gentios, também eles se abram à salvação que Deus, fiel à sua promessa feita a Abraão, lhes oferece em Jesus Cristo.

DESTAQUES

  • A FÉ EM JESUS, O CRISTO

Hoje em dia, muitas pessoas acham que qualquer fé salva. Ora, para quem foi realmente atingido pela mensagem cristã, a “paz com Deus” depende da adesão eficaz a Jesus e ao seu caminho de vida, e não de critérios extrínsecos (obras rituais etc.). Jesus é o ponto de referência de Deus em nossa vida.

  •  A GRAÇA E A GRATUIDADE

Em Cristo, recebemos “de graça” a graça de Deus. Nós, ao contrário, procurarmos justificar nossa vida, não mais pela observância de um código moral e ritual como era a Lei de Moisés, mas por muitos outros “méritos” que a sociedade reconhece e que supomos ser suficientes para garantir uma boa avaliação final: trabalho, sucesso, atividades sem fim. A carta aos Romanos nos lembra que temos valor aos olhos de Deus se nossa vida, por mais limitada que seja, está em harmonia com Cristo.

  • A JUSTIFICAÇÃO, JUSTIÇA SALVADORA DE DEUS

A justiça de Deus não é fiscalizadora, mas “ajustadora”: ela torna justo quem não o é, desde que, pela fé na graça manifestada em Cristo, a pessoa se entregue a ele. A justiça de Deus não consiste em contabilizar e cobrar, mas em realizar uma nova criação.

  • A UNIVERSALIDADE DA SALVAÇÃO

Paulo rejeita os critérios do judaísmo de seu tempo para condicionar a salvação: a Lei e a pertença ao povo de Israel, pela circuncisão (não pela raça, pois também não judeus podiam ser “tementes a Deus” ou se deixar circuncidar e observar a Lei; cf. Intr. a Gálatas). Com a vinda de Cristo, todos, judeus e pagãos, estão na mesma situação e recebem a certeza da salvação pela adesão a Cristo. Salvação não é uma questão de cultura superior. Toda pessoa que adota o caminho de Cristo é salva, pela fé.

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Responsável por este trabalho

    Xavier Cutajar

xacute@uol.com.br https://xacute1.com